Cheguei para ser feliz!

Ela acordou às 3 horas da manhã porque a bolsa estourou e já entrava em trabalho de parto. Seu coração disparou, não pela dor que percorreu sua coluna, e sim pela expectativa que tomara conta dela desde que engravidara.

Será que desta vez viria sua menininha com a qual vivia a sonhar?

Quando teve seu primeiro filho, não se importou com o sexo. Nascera enorme, saudável e já era um garotão lindo. Uma segunda gravidez interrompida aos 4 meses, depois outro menino. Agora com dois, suas esperanças ficaram um pouco menores.

 Eu com 6 meses

Desde que engravidara novamente, depois dos meninos, ficava a sonhar com vestidinhos de tafetá, seda e voil, roupinhas cor de rosa, sapatinhos femininos, laços de fita, bonecas e tudo mais que preenche este universo.

Acordou o marido e contou o que estava acontecendo. Ele num ímpeto levantou-se, vestiu-se imediatamente para chamar ajuda.

Naquele tempo, nenhuma mulher em trabalho de parto precisava ir para o hospital. No máximo, se a coisa complicasse, o médico da família vinha na casa e ali mesmo tudo se resolvia. Eram raros os casos de cesariana.

Chamava-se a parteira, que quando uma de suas clientes estava em proximidade de dar à luz, ficava de prontidão. Mães, tias, avós, demais mulheres da família e vizinhas, também costumavam aparecer. Muitas apenas por curiosidade. Outras para aproveitar e saber as últimas fofocas, mas a maioria para ajudar mesmo.

Os homens ficavam todos lá fora a conversar e esperar pela notícia do nascimento.

Em pouco tempo D. Sinh’Ana chegou trazida pelo pai desesperado.

Depois de um exame rápido e das orientações de sempre, começava o trabalho em conjunto na casa.

A parturiente tinha que tomar a sopa de frango depois do parto para fortalecer-se e ter muito leite. Todos aproveitavam e não era apenas uma panela que se fazia, e sim um caldeirão. Frango caipira, muito bem temperado para depois juntar o caldo à farinha, feito a muitas mãos, enquanto se ouvia os murmúrios vindos do quarto.

A mãe perguntava a todo tempo se havia possibilidade de ser a tão esperada menina.

- Acho que sim, pois sua barriga tem formato redondo e meninos deixam-nas pontudas. – dizia uma vizinha.

- Sei não, no meu caso todos foram iguais, só tive mais azia, mal estar.....

E assim se prolongavam as conversas até que D. Sinh’Ana mandou que elas saíssem do quarto. O dia já havia amanhecido e a hora estava chegando.

Era um dia de verão muito quente e as dores foram se aproximando, fazendo com que a mãe se contorcesse agora já a cada 3 minutos. Toalhas limpas e água morna entravam a toda hora no quarto.

A mãe dela e avó da criança ajudava, uma amiga secava o suor do seu rosto e outra ajudava a segurar seus ombros.

Os cueiros foram separados e arrumados no berço. A bacia para o primeiro banho era reaquecida a todo instante e cuidadosamente colocaram uma fralda grossa dentro dela para que o frágil recém nascido fosse bem acolhido.

Aos poucos as dores foram diminuindo o espaço e logo os que estavam fora do quarto ouviram um chorinho estridente do novo rebento daquele casal.

Minha mãe comigo no colo com 15 dias de vida

E foi assim, que no dia 19 de fevereiro de 1960, eu nasci de parto normal, pesando 3.200kg e 49 cm, um dos sonhos de meus pais.

A única menina da família e segundo minha mãe, uma menina única.

Bjs no coração!